Doações no Grande ABC já fazem falta, passado o período de festas, e preocupam as arrecadações filantrópicas contabilizadas em janeiro e fevereiro na região
Bem nos meses em que os trabalhos filantrópicos se iniciam, o terceiro setor do Grande ABC alerta para a queda no volume de doações a pessoas que estão em situação de vulnerabilidade.
Doações no Grande ABC
De acordo com membros das organizações, a escassez de doações no Grande ABC é sempre constante após o otimismo e euforia de solidariedade. Entretanto, sobretudo após a pandemia, os impactos da baixa passaram a representar um acúmulo de ameaças à continuidade dos espaços, o que reflete diretamente no cotidiano dessas pessoas.
Em São Bernardo, por exemplo, a Associação Padre Leo Commissari viu a generosidade, que resultou em 140 cestas básicas em dezembro, chegar a uma arrecadação zerada no último dia de janeiro.
“Geralmente, nas metas de começo de ano, ajudar o próximo é secundário, mas para quem cuida do lado social na região, o problema é sempre econômico. Na pandemia, mesmo a gente teve até que reduzir as atividades e considero que, com estas faltas, tenha ocorrido um impacto que afeta famílias que, na verdade, evoluem junto com o bairro”, relata Daniela Bonello, presidente da entidade, que oferece cursos profissionalizantes em espaço no Jardim Silvina/Oleoduto.
Já no Lar Pequeno Leão, a baixa nas arrecadações é estimada em 10% e preocupa a instituição de acolhimento a menores em vulnerabilidade social também em São Bernardo.
Queda sempre esperada no início do ano
Todavia, a queda é sempre esperada no início do ano, segundo a coordenadora técnica do espaço, Valéria Giolo.
“Já tivemos viradas bem piores, mas esta nos fez repensar. Acredito que, no momento, parte do que tem segurado a gente é esta contribuição municipal de 70% nos recursos e algumas empresas que estão em parceria. O tema é um alerta para a população mesmo, em geral”, destaca.
Enquanto isso, a queda nas doações chegou a 40% no Lar Espírita Doutor Adolpho Bezerra de Menezes, que atende idosos desde 1976 em Ribeirão Pires.
“Metade do nosso recurso humano é da área da saúde, o que torna a folha de pagamento hoje a nossa maior dificuldade, apesar de contarmos com dois convênios firmados – um em nível municipal e outro da esfera federal”, relata a coordenadora do Lar, Camila Gomes das Neves.
Falta de visita a idosos
Para além do abate financeiro no trabalho filantrópico, ela conta que os últimos anos foram complicados ainda pela falta de visitas que os idosos sofreram: “isto que 2023 foi um ano um pouco melhor em relação à pandemia. Mas ainda temos idosos de total responsabilidade da casa, tanto que já cheguei a enterrar alguns que viviam sozinhos no mundo, sem qualquer vínculo anterior de família ou de amigos. É difícil pensar que até nisto as pessoas, de forma geral, parecem faltar com a solidariedade ao próximo”, desabafa.
Por fim, a profissional ressalta que a impressão é que a questão cronológica se trata mais do ego humano do que do ato de doar em si. “É curiosa esta briga por data. Se propomos, por exemplo, a realização de um café solidário em janeiro ou fevereiro, as pessoas, na maioria das vezes, não aceitam; preferem dezembro. Aparentemente há quem acredite de verdade que quem faz doações em dezembro está perdoado dos próprios pecados pelo ano inteiro”.
*Foto: Reprodução/https://br.freepik.com/fotos-gratis/homem-preparando-um-banco-de-alimentos-para-pessoas-pobres_15574132.htm#fromView=search&page=1&position=0&uuid=b31e231a-be0b-4c87-9971-1730176779d4