Início Política Eucatex tem ações leiloadas para quitar SP

Eucatex tem ações leiloadas para quitar SP

por Plataforma dos Municípios
eucatex tem ações leiloadas para quitar SP

Nos últimos 20 anos, o ex-governador e ex-deputado federal Paulo Maluf presenciou promotores do Brasil, Europa e Estados Unidos rastrearem dinheiro que saiu de obras públicas, andaram por paraísos fiscais e foram parar em ações da companhia de sua família, a Eucatex. Em razão disso, Maluf foi condenado por lavagem de dinheiro e preso em regime domiciliar.

Ações da Eucatex para pagar São Paulo

Agora, no processo para devolução dessa verba aos cofres públicos, seus herdeiros podem ficar sem a empresa.

Uma ação de cobrança internacional da Prefeitura de São Paulo para recuperar aproximadamente US$ 230 milhões atribuídos a Paulo Maluf resultará no leilão de quase metade das ações da Eucatex, a firma de pisos e laminados da família do ex-prefeito. De acordo com o Ministério Público de São Paulo e a Procuradoria-Geral do Município, o dinheiro vem do superfaturamento de obras, entre 1993 e 1996.

A ação pode resolver um obstáculo ao processo começado há mais de 20 anos, pois a maioria dos recursos identificados como fruto de crimes se transformara em ações e, consequentemente, não estava disponível para saques.

Mesmo que muito do dinheiro desviado esteja bloqueado, a prefeitura já recebeu de volta uma parte. Aproximadamente US$ 35 milhões atribuídos a Maluf e descobertos nas contas de duas companhias voltaram aos cofres paulistanos, em 2019. Outros US$ 8,4 milhões, vinculados a uma terceira empresa, também foram repatriados, em fevereiro deste ano.

Além disso, quatro bancos que movimentaram recursos realizaram acordos com São Paulo para impedir indiciamentos, e concordaram com o pagamento de multas que somaram outros US$ 55 milhões, também devolvidos entre 2014 e 2017.

Maluf negou tudo por anos

Durante anos, Maluf negou que possuísse contas no exterior. Em 2017, ele foi condenado por lavagem de dinheiro. No ano passado, conquistou o direito de cumprir o restante da pena em prisão domiciliar, em virtude de apresentar problemas de saúde. Já sua defesa não quis falar sobre o leilão das ações de sua firma.

Em nota, a Eucatex disse que “os fundos mencionados são acionistas da empresa, mas não compõem o bloco de controle”. Informou ainda que preza “pela boa gestão da empresa independentemente do controle acionário”.

O leilão

O leilão das ações foi originado a partir de uma ação de falência nas Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe. De setembro a dezembro de 2019, a Prefeitura obteve da Justiça do país estrangeiro o direito de se inscrever na lista de credores das companhias Durant e Kildare, registradas nas Ilhas Virgens.

De acordo com o MP, tais empresas foram utilizadas pelo ex-prefeito e sua família para esconder recursos que haviam sido desviados de obras, entre as quais: construção da Avenida das Águas Espraiadas (atual Jornalista Roberto Marinho) e do Túnel Ayrton Senna. Elas ainda foram identificadas como destinatárias finais de recursos que Maluf teria levado aos EUA por meio de doleiros. De Lá, o dinheiro foi transferido para Jersey, uma ilha no Canal da Mancha, relacionada à Grã-Bretanha, para contas em nomes das duas firmas caribenhas. Isso tudo ocorreu entre 1993 e 1998, afirma as investigações que duraram dez anos.

A Kildare aplicou parte da verba em seis fundos de investimentos. Todos eles adquiriram ações da Eucatex: 44,5% das ações ordinárias da empresa (com direito a voto) e 50% das ações preferenciais. Para os investigadores, o esquema foi montado por Maluf para tentar lavar o dinheiro desviado e poder usufruir do mesmo.

Em 2001, as autoridades de Jersey reportaram as primeiras suspeitas e diante das descobertas das contas, investigadores brasileiros e de Jersey indicaram ações para a verba desviada da capital paulista retornasse à cidade.

Trânsito em julgado

Em 2013, o processo transitou em julgado (restando a execução da sentença). Porém, a execução possuía um limite: os recursos que estavam parados nas contas eram menos do que o desviado. O restante já tinha virado investimento nas companhias de Maluf.

Ainda tinha a opção de tentar reaver as ações, mas para o procurador do município Celso Coccaro, um dos investigadores do caso, pro processo ficaria muito caro:

“Seria preciso contratar advogados em todos os países ligados ao processo.”

Portanto, a opção encontrada foi cobrar as companhias na Justiça. Como não houve quitação dos débitos, os tribunais decretaram a falência de Kildare e Durant.

Por meio de um administrador da massa falida, as autoridades paulistas foram notificadas sobre o leilão das ações, que foram adquiridas nos anos 1990 por US$ 92 milhões. Como a Prefeitura consta da lista de credores, ela será paga com parte do que for arrecadado, afirma o promotor Silvio Marques:

“MP e Prefeitura estão atuando em diversas frentes para recuperar pelo menos US$ 344 milhões.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fontes: jornal Estado de Minas e O Estado de S. Paulo

*Foto: Divulgação

Postagens relacionadas