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Com trilha sonora autoral, microblocos de Salvador crescem

por Plataforma dos Municípios
Com trilha sonora autoral, microblocos de Salvador crescem 1

Microblocos provam o movimento cíclico da festa, além da força de iniciativas espontâneas entre os foliões

Quase um bloco do eu sozinho ou outros com 100 componentes, os microblocos têm conquistado o seu espaço no Carnaval e nas festas pré-Carnaval de Salvador (BA). 

Microblocos – formação

Geralmente, os microblocos são compostos por amigos que não querem desfilar separados, independentemente do esquema de blocos tradicionais ou de trios elétricos abertos ao público.

No primeiro dia de folia (22), em vez de se concentrarem para ver o desfile comandado pela cantora Ivete Sangalo, um grupo de foliões realizou o primeiro desfile com o microbloco “Meu amor, volto já”.  Com trilha sonora própria, a bordo de um pequeno carro elétrico, empurrado por suas pessoas, a fantasia do grupo de amigos era inspirada na personagem Chiquinha, do seriado mexicano Chaves. 

Não muito distante dali, outro grupo de amigos chamava a atenção com seu microbloco “Os Bebês”. Eram apenas seis foliões trajados com shorts branco e babador, cercados por um cordão de elástico. 

Blocos do pré-Carnaval

Dias antes da festa oficial, microblocos do pré-Carnaval também garantiram a festa de outros fanfarrões. Eles comandaram o espaço Furdunço, principal festa que antecede o calendário oficial do Carnaval. 

Cercadas por um cordão elástico amarelo e vestidas com abadás criados exclusivamente para esta festa, cinco amigas do bairro de Plataforma, no subúrbio ferroviário de Salvador, levaram à avenida o bloquinho “Bora se prejudicar”. 

Segundo uma de suas fundadoras, Lidiane Rocha, 32 anos, em entrevista à Folha de S. Paulo:

“É uma forma de a gente ficar sempre juntas. É um bloco só de amigas.”

Microblocos profissionais

Além disso, há também os microblocos que possuem estrutura profissional. É o caso do “Cole na Corda”, que é organizado por uma turma de alunos de uma academia de Crossfit de Vilas do Atlântico, na Grande Salvador. 

Aproximadamente 100 pessoas desfilaram dentro da corda, acompanhadas por uma caixa de som sobre rodas, em forma de trio elétrico. As despesas com camisetas e aluguel de equipamentos de som chegou a R$ 1 mil. 

De acordo com um dos fundadores, João Felipe dos Santos, 34 anos:

“Aqui é todo mundo amigo. Como tem muito casal, optamos por fazer nosso próprio bloco.”

Crescimento

O aumento dos microblocos na capital baiana evidencia um movimento cíclico da festa, além da força de iniciativas espontâneas entre os foliões, mesmo quando comparada à dimensão mercadológica que representa o Carnaval de Salvador.
 

Para o pesquisador sobre o Carnaval e vice-reitor da UFBA (Universidade Federal da Bahia), Paulo Miguez:

“O Carnaval continua produzindo uma presença organizada das pessoas na festa seja por meio de expressões de ordem comunitária, étnico e identitárias, seja pelo simples desejo de reunir amigos e partir para a galhofa. A genialidade da festa é comportar isso tudo.”

E complementa:

“A corda, neste caso, é muito mais para organizar e juntar aquelas pessoas que querem estar juntas do que propriamente para segregar ou deixar de fora quem não pagou para estar ali.”

Ele afirma que a corda é criticada como um elemento de segregação na festa, mas que faz parte do Carnaval de rua de Salvador desde suas origens. Já nos anos 1970, o bloco Jacu, um dos pioneiros da cidade, criticava o modelo adotado com o slogan “O Jacu não tem corda porque tem coração”.

Fonte: Folha de S. Paulo

*Foto: Divulgação / Folhapress

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